quinta-feira, 5 de março de 2009

O João

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O João era o cara, não por ser brilhante, nem esperto era, a bem da verdade, um tanto quanto lento perto dos seus. Sempre o passavam a perna, seus funcionários e seu melhor amigo sócio o roubavam na oficina, seus amigos transavam com sua esposa, que também o roubava. Faziam piadas dele na sua frente, mas ele, tampouco entendia, mesmo assim ria.
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E João era o cara, não por ser rico, pois era pobre, mesmo, tinha uma série de contas atrasadas e dívidas que jamais pagaria, e como honesto, jamais sobrava-lhe algum. Seu salário, ridículo, tornava-se ainda mais patético com uma pensão que pagava para o antigo sócio e melhor amigo, que o colocara na “justiça” por um acidente de trabalho que nem na sua falida oficina foi. Sua esposa, já morando com seu antigo sócio e melhor amigo, deixou apenas “seus” cinco filhos, uma netinha lindinha e uma pequena pensão pela separação.
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Mas João era o cara. Não por ser bonito, aliás, era muito feio, era franzino, mas barrigudo, tinha uma cabeça imensa, não tinha cabelo e suas sobrancelhas eram uma só. Sua saúde era horrível, pegava tudo quanto era pereba, e ainda, alérgico a quase tudo que era saudável. Só arrumou a mãe de seus filhos pois na época sua oficina gerava um certo lucro. Mas o “Sr. Juiz” achou que a Dona estava certa no divórcio, já que João, hipertenso, diabético e manco, seria um problema para a Dona. Então, sobraram apenas seus filhos, neta, e Ele no quarto alugado atrás de uma boca de fumo, esta, também lucrara com o suor do João através de seus filhos viciados.
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Mas João era o cara, e, como se sabe, não por ser feliz, pois era um fodido. Mas é que João, acordava às 5:30h, pegava sua bicicleta, e ia trabalhar, se fodia o dia inteiro, como era longe, nem para o almoço voltava, ficava lá mesmo, suando. À noite, voltava, ruminando toda a merda que era sua vida. Por vezes chorava, noutras ria, mas quase sempre só pensava mesmo, até por que, seu raciocino não ia tão longe. Mas, João era o cara. Pois sempre que voltava para casa, quando estava na última esquina, lá do morro, ali pela 1:00h, via sempre a mesma frase, num muro branco, sujo, escrito em letras grandes e irregulares, uma frase que o fazia suspirar. Sempre, na mesma esquina, ali, só, até que olhava o muro, soltava um “ha...” e lia: “É TUDO MENTIRA”.
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3 comentários:

romacof disse...

Está sendo organizada uma corrente de orações para que na próxima campanha política nenhum candidato escreva a sua mentira no muro do João!

Anônimo disse...

Hoje li o texto e achei muito filosófico. Penso que todos nós já tivemos (ou temos) um pouco desse João. Desde o atual Presidente da República a qualquer um de nós.
Ainda bem que pode existir uma frase alentadora no muro, como a que devolveu a esperança ao João...

Aldinor.

Tú do Verso disse...

Mal Ele sabia o que eSSe era apenAs o começo E que mUito mais mentiras iriam se descobrir com passar dos anos e que iria descobrir que o mundo que ele VIVIa era outro... bem diferente