sábado, 12 de dezembro de 2009

Silêncio ensurdecedor.

...
Muitas pessoas vieram a mim na última semana. Todas queriam saber como foi. Saber o que eu vi e ouvi. Saber quais sensações senti. O que trouxe comigo de Buenos Aires. Obviamente não é da cidade portenha o interesse dessas pessoas.
...
Sempre que comecei a explicar, falando ou escrevendo sobre o show do AC/DC, me deparei com um problema, que, lá mesmo, no estádio do River Plate, já imaginava que teria no futuro.
...
Quando o som das caixas do palco silenciaram, e as luzes se apagaram, era possível tocar nas sensações que as pessoas ao meu lado exalavam. Era físico, palpável. Os gritos e braços em riste, de punhos cerrados, excetuado os dois dedos característicos, deixava claro: o Show vai começar.
...
O espetáculo começa, de maneira absurda, e penso: “Esse é o ponto máximo do show”. Não parecia ser possível superar aquela emoção. Erro, e longe, a cada segundo repito a frase anterior comigo mesmo, até trocá-la por “Onde isso vai acabar!?”.
...
A Locomotiva, a Rosie, o streep de Angus Young em “The Jack”, ver Malcolm Young, Cliff Williams e Phil Rudd como no início dos anos 70, e, eu, ao lado do palco, eram apenas o detalhe. Após algumas músicas, as luzes se apagam novamente, e o barulho de roldana anuncia que o Sino desce vagarosamente no centro do palco, todos os olhos procuram Brian Johnson, sabendo o que virá. O refletor, apontado para o meio do estádio, na extremidade da imensa passarela que estende-se sobre o público, indica o vocal que rosna a frente do AC/DC. Ele atiça a platéia que explode como se o estádio corresse junto com Ele até pendurar-se em “Hells Bells”. Mais uma vez erro ao pensar que, dali, não seria superado.
...
Não era sequer o começo. Os 15 minutos de solo de Angus no palco que o eleva uns 5 ou 6 metros, em meio a uma chuva de papeis picados no centro do estádio, a face endiabrada com uma tiara de aspas vermelhas, se esperneando no chão como que sendo eletrocutado, te fazem pensar que nada pode descrever o momento. Ou estás ali, vendo, ou jamais saberá do que falo.
...
O show acaba. Obviamente apenas esperando o pedido de bis ao som de “olê... olê... olê... AC... DC...”. Voltam com “Highway To Hell”, e mesmo esse parecendo ser mais o “caminho do paraíso”, tu acreditas no som e na sensação que os acordes te passam.
...
Tudo escuro novamente, silêncio ensurdecedor. Me emociono, sei o que virá, me arrepio cada vez que isso me vem em mente. Os primeiros acordes de guitarra ecoam enquanto pode-se ver uma dúzia de canhões projetando-se quase que na platéia. As pessoas estão atônitas. Então ponho minhas mãos na cabeça, penso em como explicar aquele momento quando questionado no futuro, desejo profundamente que aqueles para quem eu gostaria de explicar estivessem ali, ao meu lado, pois é frustrante saber que não há linguagem suficiente em nossa espécie para descrever aquele momento. Os gritos de “Shoot... Shoot...” acionam os canhões repetidamente, fazendo o estádio e o peito tremer, então, “For Those About To Rock, We Salute You... Fire."
...
...

4 comentários:

Romacof disse...

Esta é a diferença entre estar no 14º andar na roda de um furacão e assistir um documentário pela TV. A diferença entre levar uma bolada no saco e ouvir o jogo pelo rádio.

jaime maggi disse...

Romacof, embora eu tenha adorado estar no 14º andar no centro do Catarina de Torres. AC/DC ao vivo é bem melhor. E bola no saco é uma analogia que da dor na bexiga (só homens entenderam). Mas, realmente, ainda bem que eu estava no centro do furacão, não me perdoaria ver apenas pela TV.

Anônimo disse...

Ninguem pode dizer:-Eu sei o que vc sente. Ou, eu sei o que vc sentiu. Isso não existe, só vc sabe e ninguém mais faz idéia do que vc sentiu. Nunca mais será como antes, vc nunca mais será o mesmo, e ninguém poderá ousar dizer que sabe o pq.

Simone

Moisés disse...

Belo comentário